quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Meu

  Como pode ser tão difícil e doloroso a gente conhecer a gente mesmo!
Sendo home e criado para ser sempre firme e ter postura de macho, fazer terapia era algo inconcebível para mim. Mas a idade nos amolece, nos mostra alternativas e outros caminhos.
  E assim me achei deitado no divã. Na verdade, uma poltrona confortável no consultório de um psiquiatra incrível. Achei que seria chegar, dizer o que sentia, perguntar sobre remédios e receber de volta uma receita de como agir e resolver os problemas. Putz! Nada disso. Nada mesmo.
  O que eu achava mais importante ele ignorou completamente. E o que eu achava clichê, era o que ele queria me mostrar naquele dia. Como fez sentido, tudo o que ele falou. Como doeu revolver sentimentos guardados há décadas, que achava estavam resolvidos. Que nada, aquilo era tudo.
  Somos crianças, eternamente em busca de aprovação e carinho, ele disse. Me remexi muito, desconfortável que fiquei.
  Saí de lá pensando em não voltar. Porém senti também alguma coisa boa depois daquela hora de dor e desconforto. Botar pra fora aquelas coisas foi realmente um alívio. O que viria a seguir? Seria ainda pior?
  As sessões foram se sucedendo muito bem, não menos dolorosas ou difíceis. Depois que a gente entende um pouco do que deve fazer, vai fluindo um pouco melhor. Às vezes, a vontade de não ir passar uma hora mexendo em ferida é grande; só que a vontade de melhorar é maior, e vou.
  Faz vários meses que estou em terapia e percebo que não vou parar nunca. Sempre tem algo novo criado por algo velho. Um comportamento herdado da infância. Um trauma esquecido que tem que ser lembrado. Tudo, sempre, sofrido. Necessário. Sair do conforto e do nosso murinho interior é fundamental para nos entendermos melhor, para não ferirmos os outros, para criar nossas crianças tentando não repetir os erros.
  Difícil, muito difícil. Horroroso, às vezes. Dolorido sempre. Não tem como falar de terapia séria sem recorrer a esses sentimentos, eu acho. E repetí-los para lembrar do porque são necessários.
  Nem sei qual a linha que ele aplica, não me interessa agora. Me interessa melhorar, aprender, me compreender. Ele só mostra o caminho que tenho que seguir sozinho. Sempre lembrando que vou errar várias vezes de novo e que não será nada fácil. A essa altura, olho por texto e vejo que parece um clichê de revista mas não vejo outra maneira de falar disso, já que é assim mesmo que me sinto.
  E já que o blog é meu, sobre meu pensamento, sobre meus medos e aflições, é assim que tem que ser.